terça-feira, 15 de abril de 2014

Descaso Futebol Clube

   Boa parte dos campeonatos estaduais se foi, e parabéns a quem levantou taça no último fim de semana, mas o término da competição está longe de encerrar um assunto que é crucial para a competitividade futura do futebol praticado no Brasil. Para você, os regionais deveriam existir em 2015?

   O problema financeiro do futebol brasileiro vai além da forma como os clubes são administrados do portão para dentro. A questão é estrutural. E estrutural sob o ponto de vista global. Os times nacionais se alimentam e alimentam uma complexa engenharia, que mistura política, economia e sociedade.

   No Brasil da Bola, todos os clubes abrem mão de quatro meses de faturamento. Sim, os quatro primeiros meses de cada ano são rifados em troca de sabe-se lá o quê... E nenhuma iniciativa empresarial pública ou privada, pequena ou grande, pode abrir mão de um quadrimestre de receita.

   Mas a história ganha outras cores, quando se observa o gráfico do Fundo Monetário Internacional (FMI), que lista as sete maiores economias do planeta em 2013.


   Agora, faça a simples amarração em direção ao esporte. Dos sete países, somente o Brasil não faz da principal prática esportiva da nação um negócio de fato. 

   Em outras palavras, a decisão do futebol americano tem o comercial de 30 segundos mais caro da televisão mundial; a China gasta os tubos em modalidades olímpicas com o claro objetivo de mostrar ao mundo a potência que é; o Japão, mesmo vivendo uma estagnação econômica de mais de uma década, mantém intacto o gosto pelo sumô e o basebol; a Alemanha tem a segunda liga de futebol em faturamento e a primeira em público; a França é a quinta em receita; o Reino Unido tem a liga mais rentável e a segunda em público...

   Enfim, de um jeito ou de outro, cada país expressa seu gigantismo econômico na sua modalidade esportiva de preferência. Mas isso está longe de acontecer por aqui! Por quê?

   Além das razões de praxe (segurança, estádios ruins, baixo nível técnico dos jogos...), há também a mudança de comportamento que a sociedade brasileira vem sofrendo ano após ano. É uma mudança qualitativa e quantitativa.

  Qualitativa porque as famílias brasileiras tem mais dinheiro no bolso para gastar junto aos seus e quantitativa porque as opções de lazer nas grandes cidades se multiplicam e são mais atrativas.

   Faça a conta. Sport e Náutico vão decidir o campeonato Pernambucano amanhã, 16 de abril, e o ingresso para arquibancada central está custando R$ 40. Uma família, portanto, provavelmente vai desembolsar R$ 120 para dois ingressos adultos e dois para crianças, sem contar o estacionamento, o lanche e o stress até que a família se acomode nas arquibancadas. Em um sala comum de cinema de shopping em São Paulo (SP), essa mesma família gastaria os mesmos R$ 120, mas com um estacionamento a um valor menor e sem qualquer stress, porque sabe que seus assentos são numerados e estão à espera!

   É uma diferença gritante para quem observa o futebol como produto de lazer e não pelo viés da rivalidade clubística. Como investir em novas ações de marketing, atrair empresas para nomear estádios se não há qualquer lógica de negócio inserida no processo? E mais... Como os clubes podem se manter competitivos financeiramente se, além desse cenário, ainda liberam quatro meses de receitas todos os anos? 

   É por esse conjunto de fatores que continuamos e continuaremos a perder jovens talentos para mercados em que teríamos força econômica para disputar palmo a palmo, como Rússia, Ucrânia (em guerra), Turquia, Portugal, entre outros... E se nada for feito, se mantivermos a transferência de talentos e não a valorização do espetáculo, acredito que as crianças brasileiras começarão cada vez mais a preferir torcer por Barcelona, Real Madri, Chelsea, Manchester United e apenas passarão a simpatizar por Corinthians, Flamengo, Palmeiras... Uma vez que se não vão mais aos estádios e a televisão passará a ser o elo que o liga ao clube, a geografia vira só um detalhe.

   Portanto, está claro, cristalino e evidente que não há mais lugar para os Estaduais. Não desse jeito, não com esse pensamento de competição, não com essa importância! 

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