quinta-feira, 17 de julho de 2014

Em tempos de dona Lúcia, Carta Aberta a Gilmar Rinaldi!

Caro Gilmar Rinaldi,

como vai? Não sou a dona Lúcia, essa simpática senhora que resolveu defender a comissão técnica anterior da Seleção Brasileira, mas resolvi escrever uma carta aberta a você, se me permite o tratamento, que assume o posto de Coordenador de Seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Gilmar, para mim, o fato de você ter sido agente, empresário, não influi na minha avaliação sobre a escolha de seu nome. Aliás, se me autorizas, é até bom que você tenha esse conhecimento, porque o buraco no futebol "made in Brazil" é bem mais embaixo.

Desculpe, goleiro, mas escolher o treinador é o menor dos problemas do nosso futebol. Vou usar até a sua trajetória de carreira para te propor uma observação!

"O problema, Gilmar, é estrutural. Uma estrutura que você como agente agora aposentado conhece bem, sabe do pormenor."

Não te parece sintomático que tanto Portuguesa, que você enfrentou na final de 1985 do Campeonato Paulista, e Guarani, da decisão de 1986 do Brasileirão, estejam ambos falimentares? Você não acha que esses dois clubes, que foram mal administrados é verdade, retratam bem a quantas anda o nosso esporte?

Gilmar, não se faz omeletes sem ovos, já diria Otto Glória. Ou seja, não se recupera o futebol brasileiro sem clubes... E isso, goleiro, não significa perdoar dívidas, passar a mão na cabeça e deixar tudo para lá. A mim, não! 

O que falta Gilmar é discutir a sério a Lei Pelé, que você como agente deve conhecer bem. Também Gilmar, seria preciso cobrar a contrapartida dos clubes como empresas que deveriam ser, qual seja: impostos, salários em dia... E quem não tem competência, goleiro, você sabe...

Sei que isso foge, inicialmente, à tua alçada. Mas convenhamos... Você acredita mesmo que a simples figura de um treinador, que pelo o que ouvi na coletiva de hoje será brasileiro, vai resolver todos os problemas do futebol pentacampeão?

Gilmar, Gilmar, o campeonato brasileiro é deficitário, o caminho da "espanholização" é um erro sem precedentes, não revelamos ninguém de ponta faz tempo e não podemos viver apenas de Neymar Júnior. Não entre nessa ou logo logo quem terá um boné #tamojuntogilmar será você!

Além disso, os regionais, Gilmar, não têm razão mais para existir. E os jogadores da base não podem ser verdadeiras pizzas!

Se continuarmos assim, sem debate, sem discussão, vamos ampliar esse fosso que já nos separa do futebol de nível que se pratica nos grandes centros da Europa. Tite, Muricy, Cuca, seja lá quem for, não têm varinha mágica!

Gilmar, tu vais me dizer que é só um coordenador, eu sei, eu sei! Só que meu caro essa retórica não vai lhe salvar em caso de novas goleadas ou fracassos!

"Desculpe, goleiro, mas escolher o treinador é o menor dos problemas do nosso futebol. "

Goleiro, para ser sincero, ou você usa as suas mãos para agarrar firme os problemas do futebol brasileiro e os colocar em posição de reposição para o debate ou certamente não vais durar. 

O problema, Gilmar, é estrutural. Uma estrutura que você como agente agora aposentado conhece bem, sabe do pormenor. Portanto, literalmente, mãos à obra e faça um simpósio sério, esmiúce os números dos clubes e moralize o significado da palavra campeonato. Em caso contrário, nobre goleiro, a estrutura vai lhe engolir...  Talvez não seja tão rápido, mas que ela vai lhe engolir, ah, isso vai!

Um abraço,
Maurício Capela  

quinta-feira, 10 de julho de 2014

É a estrutura, torcedor!

  Júlio César, o nosso goleiro titular, pode não ter sido unanimidade para esta Copa do Mundo. Pode até ter se adiantado nas penalidades diante do Chile, mas o arqueiro verde-amarelo deu uma boa contribuição ao lançar mão de uma frase simples, singela até, para se posicionar sobre o massacre alemão: "É difícil explicar o inexplicável...".

   Nos 7 impiedosos gols alemães frente o único tento brasileiro, já tiramos um sem número de argumentos do banco de reservas, estabelecemos um punhado de conexões para explicar o que o nosso arqueiro chamou de "inexplicável". E é bom que se diga, muitos dos argumentos usados e as conexões estruturadas fazem todo sentido... E é bem provável que sejam de fato um bom caminho para se explicar o "inexplicável" de Júlio César. 

   Mas e o imponderável? Onde fica o imponderável? 

  Como se ater simplesmente aos bons argumentos e as excelentes linhas de raciocínio para justificar que o Brasil tenha perdido de 7 da Alemanha, que 10 dias antes suou em bicas para vencer a Argélia na prorrogação por 2 a 1 nas oitavas-de-final? 
 "Essa estrutura, com componentes de empáfia, dá cartão vermelho para conceitos que flertem com organização, estudo, conhecimento e meritocracia."
   Seria correto então imaginar que a Argélia teve mais vontade que o Brasil, país-sede e a um passo da finalíssima no mítico Estádio Maracanã? Ou seria também certeiro trafegar pelos mesmos argumentos e raciocínios para apontar que os argelinos estão em um estágio melhor em termos de organização, investimento e etc, etc, etc que os brasileiros?

   O blog evidentemente vê com os melhores olhos a tese da evolução alemã, fruto dos investimentos teutos desde 2000 no futebol. Mas também não descarta o que se denominou pane de seis minutos.

   É fato que a Federação Alemã de Futebol despeja um caminhão de dinheiro para revelar jogadores talentosos há 14 anos, que desenvolveu um envolvente, mas previsível, estilo de jogo, que sua liga é forte e a mais rentável da Europa... É fato! 

  Como também é certo que os clubes do Brasil estão com suas categorias de base desestruturadas, com endividamento alto, com erros crassos de planejamento e despejando caminhões de dinheiro para importar jogadores brasileiros ou não em fim de carreira! Sim, também é certo!
"Portanto, ou se modifica o jeito, a forma e o conteúdo dessa estrutura ou viveremos de espasmos..."
  Em sendo, então somente essa comparação dessas grandes linhas de raciocínio entre Brasil e Alemanha explica o desastre no Mineirão? E a comparação com os argelinos seria também suficiente? É boa? Para este blog, não! Não mesmo!

  Para o dBico, o imponderável entrou em campo sim. Chame-o de pane, despreparo emocional, pressão, mas no fim foi o fator pessoal que calçou as chuteiras e destruiu tudo aquilo que se imaginava para este Mundial do Brasil, uma final contra a Argentina!

   Claro, claro, também teve aí alguma escalação talvez equivocada e o mau desenho tático para este jogo. Este blog mesmo falou sobre isto no post anterior, a armadilha de não marcar o meio de campo alemão... Está tudo aí no contexto!

   Mas também não neguemos o quão pesado esta Copa estava para este grupo. Não nos arvoremos em pensamentos de que "eles são milionários e por isso sabem lidar com a pressão", uma vez que cada situação é uma situação.

 Não achemos que Júlio César e Maicon com mundiais nas costas, que Dante supercampeão com o Bayern de Munique (base da seleção alemã), que o zagueiro mais caro do mundo David Luiz e que Marcelo campeão da Champions League não saibam o que é protagonismo e o que é pressão... Não entremos nessa!

  Não imaginemos que Luiz Gustavo não saiba o gosto de ser dispensado por Pep Guardiola no mesmo Bayern de Munique, que Fernandinho não conheça o que é o futebol pegado do Leste Europeu, que Oscar não sinta como é difícil agradar José Mourinho e que Hulk não tenha visto de perto a desconfiança de seus conterrâneos.

   Também não deixemos de lado como é complicado ser diferente no convívio social, quando um baixinho precisa passar em "quinhentos testes" antes de brilhar no Atlético Mineiro como Bernard e que Fred não saiba o que é jogar na França!
   "E é bom que se diga, muitos dos argumentos usados e as conexões estruturadas fazem todo sentido..."
  Imaginar que em uma Copa do Mundo no Brasil, o Brasil não seria obrigado a assumir a condição de favorito é acreditar que Real Madrid, Bayern de Munique, Barcelona e Milan a cada temporada não tenham a obrigação de vitória em seus respectivos países. E é claro que isso pesa, e muito!

   Portanto, é óbvio que o emocional entrou em campo. O que não é óbvio é por que ele foi tão determinante? Afinal, todos se conhecem das competições de ponta europeias, todos se enfrentam algumas vezes em uma única temporada, todos se tietam... Então, por quê?

  É a estrutura! A mesma estrutura que apresenta base de sustentação para as ótimas linhas de raciocínio já desenvolvidas e argumentos apresentados, mas que de tão ramificada absorve a crítica, a minimiza e a transforma em nada. E impede que atribuamos uma parcela do desastre a uma pane emocional, porque soa menor, soa falso, soa fantasioso.

  Essa estrutura é ardilosa, uma vez que fomenta o canto da sereia de que ainda jogamos o melhor futebol do mundo, de que o improviso está aí para ser usado e que ele dá certo. É a estrutura de um castelo de cartas que vai se moldando no dia a dia, vai criando certezas onde só deveria haver incertezas e alertas... É a estrutura que se transforma em arrogância, em petulância e que ignora o outro lado. 

  É o discurso estruturado que aponta no fim das contas que o talento individual vai se sobressair, que o coletivo pode ficar em segundo plano, que para tudo dá-se um jeito... Só que não! Não desta vez! 

 Essa estrutura, com componentes de empáfia, dá cartão vermelho para conceitos que flertem com organização, estudo, conhecimento e meritocracia. Esse tipo de estrutura é esperta, mas não é inteligente. 

  É esperta porque lança mão de glórias passadas para justificar ações em direção aos seus, mas não é inteligente para construir outras glórias e tampouco desconstruir o jogo do outro, uma vez que ela nem o outro reconhece. Para essa estrutura, não há adversários, há subjugados! 

  Nem adianta trocar os personagens! Mantida a estrutura tal qual ela é, ela mesmo se encarregará de deglutir o novo membro, usando dos mesmos artifícios que a sustentam até hoje. 

  Portanto, ou se modifica o jeito, a forma e o conteúdo dessa estrutura ou viveremos de espasmos, que graças à desarticulação do futebol de base do Brasil terá cada vez intervalos maiores. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O xadrez de Felipão!

   Luiz Felipe Scolari está longe de ser um Garry Kasparov! Mas seria interessante buscar alguma inspiração junto aos movimentos no tabuleiro desse famoso enxadrista russo para talvez dar um xeque-mate na Alemanha.

   O Brasil sem Neymar Júnior não é um time comum. Nunca a Seleção Brasileira será um time comum! Mas o Brasil sem Neymar é um time sem referência. Referência na acepção da palavra... Referência, porque o Brasil nos últimos três anos jogou para e viveu da inspiração de Neymar Júnior. 

 Nem Felipão e tampouco Mano Menezes testaram ou procuraram inventar alternativas, caso a Seleção viesse a ficar sem sua estrela momentaneamente maior. E é aí que o problema vira uma grande dor de cabeça para Luiz Felipe. 

"Vai que... Fred me aparece em um dia de Zé Alcino!"

   Diante do enigma da esfinge, mudar ou manter, seria interessante Felipão não abrir mão de suas convicções. Não é o momento... É sim a hora de Luiz Felipe se lembrar do Criciúma que treinou no início dos anos 90, do Grêmio de meados da também década de 90 e ainda do Palmeiras vencedor do fim da mesma década.

  Quer bancar um avante de referência? Então, banque Felipão! Quer trancar o setor de meio-campo? Não faça cerimônias, Luiz Felipe... Tranque!

   A única maneira de o Brasil eliminar a Alemanha é anular a troca de passes teuta no meio-campo. Se os germânicos tiverem a liberdade de armar o jogo, a Seleção Brasileira não vai dar conta da movimentação. 

  Jogar aberto contra a Alemanha? Negativo, Felipão! Escale Luiz Gustavo, Paulinho e Fernandinho e acabe com a troca de passes alemã. Mantenha Maicon na direita e impeça a evolução de jogo de Ozil por ali. Alinhe Hulk pelo lado esquerdo e deixe Lahm de cabelos em pé. 

"Nunca a Seleção Brasileira será um time comum!"

   Agora, para o contra-golpe funcionar à moda Jairo Lenzi, Luiz Felipe, é preciso refletir entre Oscar e Willian. O primeiro já teve chances demais e pouco produziu, enquanto o segundo parece doido para alimentar o ataque. 

   E o ataque, hein? O que fazer? A tendência seria abrir mão de Fred, mas acredito que a responsabilidade é tamanha e a dívida do atacante também que valeria a pena insistir. Vai que... Fred me aparece em um dia de Zé Alcino!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A mais temida!

   Este é um post que tem prazo de validade. Tem data e hora para se exaurir, acabar mesmo! Uma vez que a escolha dessa prosa recai em direção à França. Uma escolha que procura refletir os motivos pelos quais os "Bleus" são mais perigosos do que os alemães em uma eventual semifinal diante do Brasil.

  A França é uma daquelas equipes que chegaram um tanto quanto desacreditadas no Mundial. Sua estrela maior, Franck Ribéry, foi cortada poucos dias antes do desembarque em Ribeirão Preto (SP) e isso gerou um sem número de desconfianças sobre a capacidade dessa seleção...

   Mas por que então o dBico considera a França um time perigoso? Primeiro, porque todo time de nível tem uma boa "espinha dorsal". O goleiro Lloris, do Tottenham, é seguro; Varane e Sakho são excelentes zagueiros; Valbuena faz excelente movimentação e Benzema é um definidor por excelência.

"Jogo bom, candidato a melhor das quartas-de-final ..."

   Os franceses versão 2014 têm variação de jogo. Já jogaram com três meias e um atacante de referência, mas também já se armaram com dois homens de frente. E numa Copa do Mundo ter variação de jogo faz um bem danado, às vezes é a suma diferença entre seguir e voltar para casa.

   No caso da França, tem um adicional. Há números que falam por si. De acordo com levantamento feito pelo jornal "O Estado de São Paulo", entre os oito classificados, os franceses possuem o terceiro melhor ataque (10 gols) e a melhor defesa (2 gols). 

   Além disso, tem um indicador que chama muito atenção, cruzamentos. A França tem o segundo melhor desempenho (112), perdendo apenas para a Argentina (128). E em uma competição como essa, onde muitas vezes ferrolhos viram verdadeiras estrelas, abrir o jogo pelas laterais é a única saída.

   No entanto, essa fluidez de jogo pelas laterais não é de responsabilidade dos laterais em si, mas sim de seus meias. Valbuena, do Olympique, é um verdadeiro motor. Aparece pela direita, pela esquerda, abrindo espaço para Matuidi, do PSG, e Pogba, da Juventus da Itália. 

"O goleiro Lloris, do Tottenham, é seguro; Varane e Sakho são excelentes zagueiros; Valbuena faz excelente movimentação e Benzema é um definidor por excelência."

  Um dos problemas da França, contudo, é que ela empaca um pouco nessa movimentação quando abre mão de um de seus meias e lança mão de Giroud, atacante do Arsenal. Com essa formação, muitas vezes o ataque fica rocambolesco, recheado por Giroud e Benzema, o principal nome da equipe. As laterais, no que diz respeito à marcação, não andam bem também. E é aí que a Alemanha poderá complicar a vida francesa!

  No mais, como diria o filósofo de Copa do Mundo, é isso... Jogo bom, candidato a melhor das quartas-de-final e com chances também de ser um dos três melhores do Mundial no Brasil!