segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vai ter Copa :-/

  Ninguém resiste a uma Copa do Mundo. Ninguém! Jogador, treinador, imprensa, torcedor, cidadão comum desinteressado da bola, todo mundo quer participar de um jeito ou de outro nesta que ainda é a maior competição do planeta Terra. Ela é tão poderosa, complexa e profunda que questões geopolíticas já foram resolvidas ali, no campo de futebol, tendo a bola como mediadora. E é justamente por ser o futebol quase uma imitação da apropriação do território do outro, é que a cada edição o Mundial deixa um rastro de destruição. Um rastro que independe da vontade de quem o comanda ou a organiza.

  No Brasil, durante a fase preparatória, já derrubou o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que ocupava a cadeira máxima por duas décadas e três anos. Sim, você está lendo corretamente! Teixeira ficou no poder por 23 anos e quase dois meses. E agora enseja sem a menor cerimônia colocar na linha de tiro o maior artilheiro da história da Copa do Mundo, o fenômeno Ronaldo. E de quebra pode arrastar o governo da presidente Dilma Rousseff a uma situação de, no mínimo, desconforto!

   Na chegada dos jogadores da Seleção Brasileira, hoje, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o que se viu não foi o abraço coletivo da população torcendo para que o time consiga jogando em casa levantar a taça pela sexta vez. O que se viu não foi abraço. Foi bronca! 

   Cada povo tem seu jeito, sua forma de pensar e de se expressar. O brasileiro parece que só se deu conta de que haveria Copa do Mundo por aqui, quando viu a suntuosidade das novas arenas esportivas prontas e acabadas. E a pergunta que sempre martelou a mente de vários brasileiros, agora está na ponta da língua. Por que fazer Copa do Mundo aqui se a saúde pública está em dívida desde que o Brasil é Brasil, se o transporte pouco existe, se a educação é um arremedo e se a violência campeia as grandes metrópoles do País? Por quê? 

"...colocar na linha de tiro o maior artilheiro da história da Copa do Mundo, o fenômeno Ronaldo."

   A pergunta é sinuosa, uma vez que naturalmente já leva ao segundo raciocínio... Se há recurso para as novas arenas que colocam o futebol no Brasil no século XXI, então é obrigatório que exista dinheiro para as questões acima colocadas... 

  Este é o clímax, para este blog. Não há filosofia a ser processada, senão a simplicidade do "por quê?". O clima de indignação não é com o futebol e tampouco com a Seleção. O clima é contra o estado de coisas que não foram feitas ao longo de várias décadas. 
   
   Imaginar que com o fim do Mundial tudo irá desaparecer, a indignação voltará para o banco de reservas, é acreditar que a população seja incapaz de ligar o sujeito ao verbo. O verbo é esse aí, "protestar". O sujeito é esse também, "povo". Agora, o objeto direto é que é... Para onde vai essa metralhadora giratória verde-amarela? Quem será atingido? Ídolos? Políticos? Mídia? A resposta assertiva está longe de ser escrita, mas a resposta instintiva está aí, está batendo à porta. 

   Mas não, a Copa do Mundo não vai derrubar presidente. Pode até mexer na corrida presidencial de Outubro próximo, mas não será central. A Copa só servirá mesmo, e já está servindo, para incutir em cada brasileiro a necessidade de prestar mais atenção nas suas coisas. E a razão é simples, simplória até. Ninguém gosta de passar vergonha em casa quando convida amigos. Ninguém! E o Brasil, meu caro, vai passar... Melhor! Já está passando... Resta saber se vai ou não tomar conta do que é seu a partir de agora!

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